Quem trabalha com o meio ambiente costuma se preocupar demais com uma notícia como esta: “Cerrado, o segundo bioma mais ameaçado”, é manchete de matéria publicada aqui mesmo na Revista Ecológico e que traz, em uma linha, o complemento ainda mais trágico: estudo mostra que área perdeu 27% da sua vegetação nativa, ou 38 milhões de hectares, em 39 anos. Ainda mais preocupante, porém, é a velocidade das mudanças climáticas, uma das causas dessa perda do cerrado, além dos incêndios criminosos, claro.
Enquanto a falta de chuva aqui e as enchentes dali provocam desastres cada vez mais violentos mundo afora, o ser humano corre para apagar incêndios, literalmente. Ou conter a água que avança sobre todos. A emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) precisa ser enfrentada pelas energias renováveis que não conseguimos avolumar com a devida urgência. As chamas e as águas chegam rapidamente, enquanto o mundo segue em movimento, necessitando produzir para a própria sobrevivência, num círculo vicioso dos mais perversos.
Pura ironia: ao perdermos partes do Cerrado ou de qualquer outro bioma, o solo empobrece e a capacidade de absorção de gás carbônico é prejudicada. O ecossistema perde seu equilíbrio natural, o que resulta na perda de vidas, nutrientes e estabilidade. Isso abre caminho para mudanças climáticas cada vez mais severas que afetam toda a humanidade. A questão não é de alarmismo, mas sim um alerta que os especialistas em mudanças climáticas vêm dando há tempos: nossa negligência com o meio ambiente teria um preço, e agora estamos pagando por isso – um preço doloroso. E será ainda pior para as próximas gerações, a menos que ações concretas sejam tomadas imediatamente.
A questão vital agora é conciliar tudo isso com o chamado desenvolvimento sustentável. A sociedade, governos e setores produtivos à frente, precisam encontrar o caminho. O mundo não pode parar e, considerando a Mineração como setor primordial para a produção industrial que gera emprego e renda, ela é, ao mesmo tempo, a luz que pode colocar o Brasil na vanguarda da transição energética.
Temos riquezas em abundância, em especial os minerais estratégicos para transformar tecnologicamente a produção industrial. A oferta tende a ser menor que a demanda e cabe ao país aproveitar a oportunidade. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) cobra urgência na superação e desafios institucionais e regulatórios para que as mineradoras avancem na produção. As grandes organizações do setor perseguem a sustentabilidade, mas o ritmo ainda é lento diante da emergência climática.
Além de perder o trem da história, corremos o risco de perder a alavanca econômica capaz de projetar o Brasil mundialmente como potência. As tragédias de Mariana e Brumadinho exigiram mudanças e mais rigor na legislação ambiental. Mas o próprio setor mineral clama por mais segurança jurídica, incentivos para pesquisa e outras ferramentas capazes de tornar o país mais atrativo para investimentos.
Enquanto isso, o calor intensifica o clamor por mais chuvas. Quando elas chegam, muitas vezes são devastadoras ou até mesmo tóxicas, carregando partículas presentes na fumaça das queimadas, suspensas na atmosfera. O ar seco que respiramos de forma cada vez mais constante prejudica nossa saúde de maneiras que nem sempre percebemos de imediato. O fogo das queimadas, assim como as águas das enchentes, empobrece o solo, afetando a produção rural e provocando escassez alimentar. E a preocupação deixa de ser apenas de quem lida com o meio ambiente.
*Biólogo, especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e diretor da Tema Ambiental